quinta-feira, 9 de junho de 2011

Quer ser cozinheiro?

A docência da gastronomia é desafiadoramente deliciosa para mim. Me realizo quando vejo o brilho nos olhos dos alunos começando a refogar, assar e guisar com suas próprias mãos. Mas, ultimamente me pego preocupada com esses futuros cozinheiros.

O estudo da gastronomia em escolas e universidades é recente. Há algumas décadas os trabalhadores da cozinha adquiriam conhecimentos na prática profissional e no conhecimento empírico.

Nos anos 1980, os chefs europeus chegaram ao Brasil. Trouxeram novos conceitos para o mercado, aplicaram técnicas até então desconhecidas no desenvolvimento de cardápios e no preparo dos pratos. Esses chefs tinham um diferencial importante: formação profissional em Gastronomia.

A formação em Gastronomia deve preparar profissionais para assumir com capacidade de administração um empreendimento gastronômico, com conhecimento de elaboração de cardápios, criação de pratos e combinação de sabores.

A Gastronomia passou a ser uma carreira concorrida. A televisão colaborou bastante com a moda de ser chef. A cozinha que um aluno recém formado encontra é diferente da idealizada por ele. Um profissional de Gastronomia deve saber que a cozinha requer talento, dedicação, trabalho duro e muita paixão. Não há glamour em enfrentar panelas pesadas, trabalhar nos fins de semana ou ficar em pé durante horas nas cozinhas quentes da vida.

O que me preocupa é a glamourização da profissão e, com ela o distanciamento destes profissionais da cozinha real. Por isso, a pergunta que não quer calar: Quer ser cozinheiro??? 

www.chefcrisleite.com

4 comentários:

  1. Chef parabens pelo artigo. Descobri na pele tudo isso rsrs. E hoje posso responder com toda convicção que amo ser cozinheiro. Realmente saimos das salas de aulas achando que iremos encontrar uma cozinha idealiza pela midia e por nos mesmos, mais quando entramos em uma cozinha profissional nos deparamos com o arduo dia-a-dia da rotina de trabalho e nos perguntamos cade aquele glamour que a tv diz ??? E que achamos que leva os grandes Chefs. E na verdade o que encontramos é uma cozinha corrida com muito, muito trabalho a fazer, panelas pesadas, calor excessivo e muito mais... O que fica ? O que faz continuar quando nos deparamos com essa realidade? É o amor, a dedicação, o profissionalismo, o sorriso e o elogio da pessoa que fica satisfeita com o prato preparado... Espero que essa moda de ser Chef passe logo e que fiquem apenas os profissionais que tenham talento, amor e realmente vontade de ingressar nesse universo, tenham realmente amor pela gastronomia. Vc é um grande exemplo disso, uma grande prossional, talentosa e que tem um grande amor pelo que faz.
    beijos
    Marcus Muniz

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  2. Concordo em gênero, número e grau.

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  3. Sim, eu quero ser cozinheiro! Quando terminei meus estudos no antigo segundo grau, hoje ensino médio, não existiam cursos superiores em gastronomia no Rio de Janeiro. Talvez em São Paulo, mas na época, não tinha condições de fazer. Prossegui minha vida estudantil e depois de formado o velho sonho, herdado em ver a minha mãe a frente de enormes panelas, talvez passado pra mim por herança genética falou mais alto. Em 2008,estava eu num carro com um amigo e o filho de outro amigo, quando o filho deste outro amigo me disse: "-Leonardo, vi na internet que uma ong está oferecendo curso de gastronomia. Anotei o endereço pra você!". Peguei o endereço e no outro dia estava na porta do local de inscrição. Mais de mil pessoas concorrendo a 60 vagas. Quis o destino que eu fosse um dos 60 alunos e fui mergulhando no mundo do mirepoix... Terminado o curso caí no mercado de trabalho e vi que é preciso além das técnicas muito amor pela profissão. É preciso,muitas vezes, superar os seus limites em cozinha. Muitas foram as lágrimas derramadas a frente daquele que se tornou meu melhor companheiro, o fogão. Lágrimas de alegrias, muitas vezes também de cansaço. Recordo-me que uma vez, ao terminar uma alimentação para dois set's de filmagens que a empresa que eu trabalhava na época era responsável, me dei conta que estava a quase 23 horas em cozinha. Depois que a equipe que me auxiliava foi embora, e estava apenas eu e as panelas, me dei conta de que até mesmo o silêncio em cozinha é encantador. Lembro-me que naquele dia as minhas lágrimas foram de agradecimento à Deus. Ser cozinheiro, pra mim, é o que define a minha existência. Talvez eu não saiba fazer mais nada em minha vida que não me doar as minhas panelas.

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